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Como o contexto de nosso projeto, a fraseEcoSol-agroecologiaindica uma convergência entre a
agroecologia e a economia solidaria, no sentido de construir circuitos curtos solidários.

 


Perguntas analíticas:


O projeto originalmente tentou para investigar duas perguntas principais:
• Como as redes EcoSol-agroecologia desenvolvem capacidades coletivas para circuitos curtos
solidários?

• Como pesquisa-ação pode ajudar para identificar e fortalecer estas capacidades?


Com a pandemia de Covid-19 adicionamos mais perguntas, por exemplo:
• Como estas redes estendem ou transformam suas práticas anteriores?

• Como elas superam os gargalos, constroem aprendizados e concebem novas estratégias?
• Como elas transformam dificuldades em oportunidades?

Métodos:


Originalmente planejamos oficinas presenciais para investigar as perguntas por meio de vários métodos culturais (p.e. narrativas, artes, cartografia social, música, etc.). Contudo, pela pandemia tivemos que postergar este plano. Temos organizado atividades e encontrado fontes on-line: informes técnicos; vídeos institucionais; seminários e webinars on-line; informes periodísticos (alguns escritos por ou com nossos parceiros).

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Baixada Santista, Brasil

Para este estudo de caso UNESP tem como parceiro: o Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista (FESBS).

Antes da pandemia
 
Na Baixada Santista, as redes de EcoSol-agroecologia emergiram a partir de um movimento em rede para consolidação da Economia Solidária na região. Este iniciativa envolveu um processo de formação de gestores, a luta para o estabelecimento das políticas públicas de EcoSol e o debate sobre perspectivas de inclusão produtiva, especialmente para a população em vulnerabilidade, promovidos pelo Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista (FESBS). Este conjunto de iniciativas fortaleceu o movimento e possibilitou o estabelecimento das redes.
 
Antes da pandemia, a antiga Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) vinha desenvolvendo, com apoio do FESBS, o Programa Microbacias II (Acesso ao Mercados, 2011-18). Seu objetivo era de aumentar a competitividade e melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares, sobretudo de comunidades indígenas. Utilizando uma metodologia construtivista, a estratégia maximizava a participação, respeitando as identidades socioculturais, elaborando Planos de Etnodesenvolvimento para as aldeias e um plano de negócios para agricultores familiares. Em três cidades da Baixada Santista, aldeias indígenas foram contempladas com projetos autogeridos de desenvolvimento agroecológico. Essas comunidades vêm se aprimorando para gerir suas iniciativas produtivas, como sistemas agroflorestais, produção de piscicultura sustentável e turismo de base comunitária.
 

Durante a pandemia
 
Durante a pandemia o FESBS promoveu uma série de palestras, conferências, rodas de conversas que se tornaram o espaço de formação continuada de gestores, parceiros e líderes de iniciativas econômicas solidárias. Além disso, algumas dessas atividades, como um seminário sobre agroecologia e economia solidária no contexto da pandemia, foi realizado com apoio e envolvimento do projeto AgroEcos. Nestas atividades, os diversos parceiros discutem suas experiências: vendas coletivas, organização cooperativa, autogestão democrática, apoio das prefeituras e estratégias. Assim, os participantes podem fortalecer suas práticas e inspirar outros lugares e grupos.

Nesse período diversas pequenas redes solidárias na Baixada Santista foram se formando ou se fortalecendo. Portanto, o Fórum de Economia Solidária tem se tornado um núcleo de construção sócio cultural baseado nas diversas formas de proximidade e reciprocidade. Como exemplo, tem-se a Feira do Agricultor em Peruíbe organizada pela União Mulheres Produtoras de EcoSol (UMPES); essa rede solidária tem difundido a ideia de ‘Construindo uma nova realidade’. Em Itanhaém, a Associação dos Produtores Rurais da Microbacia do Rio Branco (AMIBRA) que também se configura como uma rede solidária tem sido apoiada por meio do Banco de Alimentos, que compra frutas e legumes da agricultura familiar e distribui para as pessoas em situação de vulnerabilidade social, bem como para o incremento da alimentação escolar.

A pandemia provocada pelo vírus Covid-19 dificultou a articulação dos circuitos curtos de produção e consumo. Contudo, as relações solidárias de proximidade (organizacional, institucional, de propósitos e geográfica) na Baixada Santista promoveram o fortalecimento de redes solidarias com soluções inovadoras como a entrega de alimentos por encomenda para retirada por meio de transporte individual (carros) ou entregas por meio de cooperativas de ecobikers que favoreceram o comércio direto.

Em Santos, a rede Livres Consumidores Conscientes é um bom exemplo. Trata-se de uma plataforma que conecta produção, entrega e consumo sob os princípios da economia solidária. Trabalha com uma rede de produtores e consumidores de produtos sem agrotóxicos e sem atravessadores capitalistas. Esta iniciativa oferece a opção de se pegar a cesta de alimentos direto na sede ou receber a cesta em casa (sobretudo pelos ecobikers).

Em Peruíbe, a montagem das cestas se dá no próprio espaço da feira, antes das entregas. Posteriormente, o recurso financeiro é distribuído aos produtores e entregadores de acordo com os critérios estabelecidos coletivamente. Assim, os participantes tomam decisões de forma democrática. Além das vendas, as prefeituras, ONGs e redes solidárias organizaram doações para pessoas socialmente vulneráveis por meio do PAA, do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Banco de Alimentos. 
 
Além das iniciativas de promoção de redes EcoSol-agroecologia, o FESBS tem se colocado como indutor de políticas públicas. Foram realizados diversos debates com candidatos a cargos eletivos municipais e foi elaborada uma carta com as principais propostas para um programa de economia solidária municipal.

Para saber mais: a pagina FacebookWebinar AgroEcos, e Rodas de Conversas
NRJ Silva et al., Ativar proximidades para construir a economia solidária, Folha Santista, 29 de julho 2020.

Bocaina, Costa Verde, Brasil

O Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) é um programa da Fundação Oswaldo Cruz em parceria com o Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra, Paraty e Ubatuba (FCT).

Antes da pandemia: defesa territorial e sistemas agroflorestais

Na região da Bocaina, as comunidades tradicionais enfrentam inúmeros conflitos territoriais devido à especulação imobiliária, grandes empreendimentos e turismo predatório. Ao mesmo tempo, suas práticas tradicionais agrícolas, extrativistas e pesqueiras são criminalizadas pelas Unidades de Conservação criadas pelo Estado em sobreposição aos seus territórios, impactando incisivamente o sistema cultural desses povos.

Apesar do contexto adverso, essas populações vêm resistindo a expropriação e a desvalorização de seus modos de vida e requerendo políticas públicas que possam conciliar a conservação da natureza com a permanência das comunidades e de suas práticas tradicionais. Em 2007, da união entre os diferentes povos quilombolas, indígenas e caiçaras para enfrentar ameaças vividas pelas comunidades surgiu o FCT. Em 2009, o FCT estabeleceu uma parceria com a Fiocruz a partir da gestão compartilhada e governança viva e assim criaram o OTSS.
 
A partir do diálogo de saberes tradicionais e saberes técnicos e tecendo uma rede parceiros, o OTSS atua na construção e aplicação de tecnologias sociais, como a agroecologia e o Turismo de Base Comunitária (TBC). Em 2012, o FCT inicia o Projeto Juçara, ação com o objetivo de gerar renda familiar por meio do manejo sustentável dos frutos da palmeira. A polpa comercializada em sistema de circuito curto chegava diretamente ao consumidor final. Em 2014 lança a campanha ‘Preservar é Resistir’, visando dar luz ao tema da justiça socioambiental e garantir os direitos coletivos das comunidades tradicionais em seus territórios.


Durante a pandemia: trocas comunitárias

Diante dos impactos causados pela pandemia de Covid-19, o FCT criou a a campanha ‘Cuidar é Resistir’, visando reduzir a vulnerabilidade das comunidades tradicionais já carentes de políticas públicas eficazes. As ações solidárias buscaram manter a segurança alimentar e nutricional, distribuindo cestas básicas com alimentos saudáveis de agricultores familiares e da pescadores artesanais. Com a redução do turismo na região, notou-se um incremento das atividades tradicionais de agricultura e pesca nesse período. A troca de sementes, mudas e produtos agroecológicos entre as comunidades também se intensificou, contou com o apoio logístico do FCT e ganhou mais visibilidade. As comunidades reforçam a importância de garantir que os mestres, griôs e pajés, guardiões da memória e dos saberes ancestrais, transmitam seu legado à juventude. As comunidades tradicionais mantêm vivas muitas práticas, sobretudo o manejo sustentável da natureza, os laços comunitários, os mutirões coletivos de trabalho e as trocas em circuitos curtos. Cada vez mais se colocam como a forma mais adequada de organizar o sistema produtivo dentro dos princípios de uma economia solidária.

Para saber mais: a pagina
 FacebookWebinar AgroEcos sobre a Bocaina; os videos na série ‘Cuidar é Resistir’, Rede de Solidariedade do FCT.
 

Valle Central, Tarija, Bolívia

Em Tarija, a Comunidad de Estudio Jaina (CEJ) colabora com produtoras agroecológicas da Bioferia e de comunidades campesinas.

Antes da pandemia: vendas diretas na Bioferia

Desde muitos anos, a Bioferia vincula as vendedoras, que são ao mesmo tempo produtoras, com suas práticas agroecológicas provenientes de diversas comunidades campesinas do Valle Central de Tarija. As vendedoras recuperam plantas e cultivos tradicionais, transformando-os e promovendo os produtos aos consumidores. Assim, as mulheres geram ingressos, sobretudo pela venda de hortaliças e produtos transformados. Esta feira semanal foi organizada há mais de 20 anos por mulheres campesinas que resolveram chamá-la de Bioferia. Em todo este tempo as produtoras desenvolveram capacidades coletivas para auto-gestionar a feira, assim como informar os consumidores sobre as práticas agroecológicas e seus amplos benefícios. Durante 2019 as vendedoras discutiram medidas para melhorar seus pontos de venda, sobretudo para proteger os produtos. Isto se deu com a facilitação de CEJ. No entanto, esta planificação foi interrompida pela pandemia. 
 

Durante a pandemia: Cestas Campesinas como nova relação de proximidade
 
Desde o início do distanciamento social, em março, as campesinas não puderam transportar com segurança seus produtos até a cidade por muitas razões. Dessa forma, atores diversos construíram um novo sistema, as ‘Canastas Campesinas Alantuya’, baseado em quatro princípios: produtos agroecológicos frescos diretamente do produtor ao consumidor; manejo seguro na manipulação, transporte e distribuição; preço justo e comércio solidário campo-cidade; e, comércio local para uma economia de proximidade.
 
Este mecanismo foi construído passo a passo desde o início. No princípio um vereador de Tarija pediu ajuda, a título pessoal, na compra de alimentos frescos para levar a um grupo de famílias com deficiência. Com uma van da prefeitura, coordenaram com as mulheres da Bioferia que moram na comunidade de Saladillo a preparação de 20 cestas de verduras, com preço padrão. Foi uma habilidade nova montar cada sacola com a mesma composição do produto, porém, diversificada e balanceada para atender às necessidades nutricionais completas das famílias (conforme orientação de uma nutricionista). O vereador pagava as cestas no momento da entrega, o que se tornou outro princípio central do novo modelo. Essas entregas inicialmente atendiam a pessoas com deficiência que não podiam se deslocar para outro lugar.

Decidiu-se então abrir as vendas à domicílio para o público da cidade. Assim, foi criado um link para
ingressar em um grupo do WhatsApp chamado Canastas Campesinas. Em resposta, o grupo de pessoas interessadas em saber exatamente do que se tratava esse mecanismo, foi rapidamente preenchido, pois alguns pensaram que era uma cesta gratuita do governo e, outros que era um serviço comercial de algum fornecedor intermediário privado. Estas respostas levaram os voluntários a discutir os objetivos do sistema de abastecimento solidário, esclarecendo que este se baseia no voluntariado solidário, facilitado pela responsabilidade institucional de Jaina e do município de Tarija. Apesar das muitas dificuldades, este sistema foi eventualmente estendido a várias outras comunidades próximas para fornecer as cestas em uma base rotativa aos consumidores em Tarija.

A venda direta facilita a tentativa de conscientizar os consumidores urbanos sobre a origem dos alimentos, bem como sobre as características produtivas do espaço geográfico que circunda a cidade. Cada grupo fornece informações sobre a comunidade, suas características agroecológicas, sua distância, etc. Muitas pessoas recebem produtos que nem sempre estão acostumados a comer ou não sabem como utilizá-los na alimentação, por isso a informação alimentar teve que ser repassada para determinados produtos. As pessoas até compartilharam algumas receitas para seu preparo e consumo no grupo WhatsApp. Foi muito interessante observar que os compradores tiveram uma atitude colaborativa.

Em síntese, como resultado desta articulação, novos intermediários solidários vêm construindo relações de proximidade entre produtores agroecológicos e consumidores conscientes e solidários, estes últimos podem adquirir e trocar conhecimentos para sustentar relações solidárias.

Para conhecer mais: Canastas Campesinas Alantuya: pagina Facebook
Seminario AgroEcos, ‘Outras economias, circuitos curtos solidários e agrobiodiversidade’

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