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AgroEcos realiza intercâmbio entre iniciativas de EcoSol

Foto do escritor: Projeto AgroecosProjeto Agroecos

Iniciado em 2020, o projeto AgroEcos, num contexto de pandemia, vem dialogando com diversas iniciativas da economia solidária baseada em agroecologia da Baixada Santista, com o intuito de fortalecer essas organizações e suas capacidades coletivas. Dentre eles podemos citar a União de Mulheres Produtoras da Economia Solidária de Peruíbe (UMPES-Peruíbe), o Coletivo Banana Verde (Bertioga), Coletivo Morro das Panelas (Peruíbe), o Grupo de Consumo Livres (Santos), Associação dos Produtores Rurais da Microbacia Hidrográfica do Rio Branco (AMIBRA-Itanhaém), além de representantes do poder público e de movimentos sociais, como o Departamento de Pesca e Agricultura de Peruíbe e Itanhaém, representantes da Casa da Agricultura (CATI/CDRS), da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), e representantes do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista (FESBS).


O projeto vem promovendo, junto com esses parceiros, uma série de seminários, entrevistas, lives, cursos e conferências virtuais, para debater os desafios e gargalos da economia solidária e dos circuitos curtos de comercialização presentes no território, analisando a partir dessas conversas as principais potencialidades, as semelhanças, as particularidades e dificuldades que cada um desses sujeitos vêm enfrentando na luta pela agroecologia e pela produção e comercialização de alimentos saudáveis e justos.


Não obstante, essas iniciativas vêm trocando seus conhecimentos e capacidades coletivas, num contexto de pandemia e crises, tanto sócio-econômica, quanto política, com outros territórios também inseridos no projeto, como é o caso da Bocaina e do Valle Central de Tarija (Bolívia).


Nesse sentido, para finalizar as ações do projeto, dado que este está chegando ao seu fim, somado às flexibilizações de algumas medidas restritivas contra o Covid-19, a equipe do Agroecos organizou um intercâmbio presencial entre os territórios da Baixada Santista e Bocaina. O intuito da atividade foi fazer com que as iniciativas da Baixada Santista, com as quais o projeto se relacionou, fossem visitar as hortas produtivas e roças dos agricultores de Ubatuba. A proposta foi uma construção entre Agroecos, FESBS e parceiros da CDRS e ATER de Ubatuba.


O encontro foi realizado nos dias 25 e 26 de março de 2022, e contou com a participação de agricultoras, consumidores conscientes e integrantes do poder público de Peruíbe, Santos, Mongaguá e Bertioga, com as quais o projeto já vinha dialogando ao longo dos dois anos.


No primeiro dia (25/03) o grupo visitou a horta orgânica de Regiane e José, na Fazenda Velha em Ubatuba. Ali são produzidos e comercializados a mais de 30 anos hortaliças, como couve, salsinha, quiabo, inhame, banana, abobrinha, rúcula, entre outros produtos orgânicos da agricultura familiar. Hoje, a família é membro da Organização de Controle Social (OCS). Esta é uma forma de regularização da produção orgânica, em que a garantia da qualidade orgânica é dada pelos agricultores numa relação de confiança estabelecida com os consumidores por meio da venda direta (feiras, entrega em domicílio ou em locais de trabalho, no sítio) ou por meio da comercialização para as entidades governamentais em modalidades como PAA, PNAE ou programas dos governos locais (EMATER, 2016).


Os agricultores da Fazenda Velha, em uma roda de conversa, compartilharam com os parceiros da Baixada Santista sobre a história da fazenda, o processo da certificação da produção e seus gargalos e suas formas e locais de comercialização, como feiras, organização de entrega de cestas, venda em quitandas e restaurantes. Regiane, agricultora familiar, comentou sobre sua experiência ao longo da pandemia, alegando ter, no início, um aumento significativo na procura por alimentos orgânicos, o que fez com que eles aumentassem sua produção e comercialização, principalmente de cestas. Todavia, de acordo com a agricultora, isso vem mudando ao longo do tempo, sobretudo devido à crise socioeconômica na qual o Brasil está passando, fazendo com que as feiras e demandas diretas diminuíssem. O assunto rendeu quando os agricultores e os parceiros do poder público da Baixada Santista também partilharam seu dia a dia na lida com a terra e as políticas públicas que fortalecem os circuitos curtos locais. Após a roda de conversa, o debate continuou. Dessa vez em torno da roça. José mostrou aos colegas sua estufa e seu sistema de irrigação, levantando a discussão sobre tecnologias socioterritoriais, manejo da produção, e soberania e segurança alimentar.


Finalizando a visita na Fazenda Velha, o grupo se deslocou para o quintal produtivo de Ana Lucia. A agricultora fez um tour pela sua roça e quintal, hoje mais voltado para autoconsumo, doações e trocas, mas também comercializa em feiras e é vinculada ao OCS. Ali, Ana cultiva mandioca, abacaxi, banana, hortaliças, entre outros alimentos agroecológicos. Os resíduos orgânicos da agricultora são tratados em seu biodigestor, tecnologia social que gera biogás, canalizado para o fogão de sua cozinha, e biofertilizante, usado para adubar a terra de seu quintal, trazendo mais autonomia à produtora. Os momentos de conversa entre o grupo foi muito rico, por exemplo, quando Ana Lucia e Imaculada (agricultora de Peruíbe e quilombola) compartilharam suas experiências com a Caderneta Agroecológica (CA). A CA é um instrumento de mensuração criado para auxiliar na administração da produção de mulheres agricultoras, por meio do registro do consumo, da troca, da venda e da doação do que é cultivado nos quintais produtivos. Ao sistematizar o trabalho das agricultoras familiares, a caderneta dá visibilidade à contribuição da mulher na manutenção da unidade produtiva, promovendo a agroecologia, a segurança alimentar e nutricional e a geração de renda (NETO, et al., 2019).



No segundo dia do intercâmbio (26/03), as roças visitadas foram no Ubatumirim, Ubatuba-SP, em especial o Sítio das Palmeiras e o Sítio de Dona Dalva e Seu Euclides. No Sítio das Palmeiras o grupo foi recepcionado com um café da manhã delicioso, com a especialidade da casa, o pão e suco de juçara (Euterpe edulis), nativa da Mata Atlântica. Nessa propriedade, os agricultores Felipe e Tamie comentam sobre a espécie ser o carro chefe da família, mas também cultivam outros alimentos como banana, cambuci, abacate, vinagreira, mandioca, entre outras hortaliças e frutíferas nativas. Os produtores enfatizaram a importância do replantio e manejo da juçara nas roças, principalmente por estarem inseridos na zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Mar, local passivo de conflitos com a fiscalização ambiental. O Euterpe edulis é uma espécie ameaçada de extinção, por ter sido por muito tempo alvo de corte para extração do palmito. Hoje, o Sítio das Palmeiras, assim como outras roças presentes na região de Ubatuba, fazem uso da polpa da juçara para geração de renda dos agricultores familiares, proporcionando a dispersão das sementes e produção de mudas para implementação de novos módulos agroflorestais. Felipe e Tamie mostraram aos convidados da Baixada Santista os processos de colheita da juçara e falaram sobre o beneficiamento e comercialização com apoio da Associação de Bananicultores do Ubatumirim, organização comunitária que possui os equipamentos necessários para o despolpamento da juçara. Essa organização possibilitou que a família vendesse para a merenda escolar, apesar de hoje só comercializarem para o consumidor direto.


Em seguida, Dona Dalva e Seu Euclides mostraram também sua rotina na roça e nos quintais produtivos, falando sobre a lida com a terra e a rotina de comercialização nas feiras. Seu Euclides comenta sobre a importância destas para os agricultores e agricultoras como um espaço de construção de relações. Juntos, eles vendem tanto para feiras convencionais, aos sábados, quanto para feiras orgânicas, às terças, como a Rede Agroecológica Caiçara, em Ubatuba. Trouxeram também o debate das certificações e dos selos de orgânicos, sendo estes bastante importantes para a valorização dos produtos, porém bastante burocráticos e custosos. A agricultora traz a reflexão, assim como os agricultores da Fazenda Velha, sobre as relações de confiança serem tão importantes quanto o selo. Seu José compartilha que ter e manter a certificação é muito difícil e cara, muitas vezes preferindo a tradicional venda no boca-a-boca.


O encontro foi finalizado com chave de ouro no restaurante do Quilombo do Campinho da Independência, em Paraty-RJ. O espaço é bastante simbólico quando se trata da luta pela agroecologia, economia solidária e pelo território. Foi feita, após o almoço, uma roda de conversa de fechamento para que os convidados e organização avaliassem a atividade. E a conclusão é que o encontro foi um sucesso. Para os membros da Baixada Santista, tanto para os produtores, quanto para os representantes do poder público, foi muito bom conhecer todas essas experiências de perto. Ver os produtores vinculados ao OCS foi uma inspiração, mesmo trazendo para o debate os desafios para tal. Em meados de 2015, os agricultores da OCS Agroecológica de Ubatuba conquistaram a Declaração de Cadastro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e, regularizados, comercializavam seus produtos de forma direta ao consumidor, na Feira Agroecológica e Orgânica Espaço Saudável e na Rede Agroecológica Caiçara. Essa é uma grande conquista, que deve ser mostrada e replicada. Para os representantes da CATI/CDRS e ATER também foi um grande prazer organizar e presenciar essas trocas. Vivemos no confinamento, por conta da pandemia, por muito tempo. Retornar às atividades presenciais é muito rico e necessário. Presenciar os agricultores partilhando seus saberes, seus problemas, suas ideias, suas lutas, fortalecendo as redes de parceiros, é o que dá sentido para o projeto e para os membros da CATI/CDRS e ATER.




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